domingo, 26 de abril de 2015

Meu Cabelo e a Opressão

Quando eu era menina, tinha um jeito tímido e vontade de me esconder do mundo porque me achava feia e, de fato eu era feia para os padrões de beleza. Era magricela, tinha as pernas finas e vivia descabelada. Naquela época não haviam muitos produtos para o meu tipo de cabelo e desde sempre ouvia de todo mundo que meu cabelo era ruim e que tinha que ser alisado. Aos 11 anos, minha mãe me levou ao salão de beleza para fazer um amaciamento e desde então, passei quase a vida toda com um cabelo quimicamente modificado. Até o ano passado eu não tinha ideia de como era o meu cabelo de verdade. Infelizmente, não tem nada de engraçado na violência subjetiva pela qual passei, pois de tanto ouvir que meu cabelo era feio, acabei acreditando nisso. Obviamente tive problemas com os processos químicos, resultado de anos de submissão, até que frente a possibilidade de ficar careca entendi.
Entendi que eu precisava me descobrir, me respeitar e, sobretudo, me aceitar. É um processo doloroso, beira a abstinência do vício de alisar meus cabelos e com força de vontade, hoje os meus cabelos cacheados são resultados de um exemplo de superação. Atualmente, quase trintando, estou adorando ter essa característica, tudo mudou! Não me incomoda mais não ter sido convidada para ser dama de honra nos casamentos em minha infância, cresci e percebi qual é a real condição do padrão de beleza.
Assim como eu, a minha filha e muitas outras meninas passam por essas situações constrangedoras que nos mostram como incomodam os cabelos crespos e cacheados.
Costumamos ouvir que para bons empregos é necessário ter cabelos lisos, para ficar bonita temos que diminuir o volume do nosso cabelo, que cabelo duro tem que amaciar, aff... enfim, são tantos os ataques velados que tenho preguiça de relatar.
Impressiona a impregação do valor negativo não só do cabelo, mas da cor, da condição. Sabemos o que é a assunção da negritude mas identificamos como as pessoas se incomodam ao apontar a mulher negra, se diz "moreninha" porque a apontada pode se ofender.
Para concluir, quero afirmar minha identidade, meu gênero e cor. Não quero e não pretendo abrir mão de minha posição política. Posso querer pintar, cortar e até alisar, mas que isso advenha de uma decisão consciente e não derive de uma opressão social que determina minha identidade.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Elogio ao Palavrão

*Texto proibido para pessoas sensíveis ou menores de 18 anos. Outro dia, eu me vi numa situação embaraçosa. Em meio à correria cotidiana, quase vocalizo um palavrão perto de um adolescente. Era em suma um palavrão sutil, daqueles delicados e que usualmente, as pessoas utilizam para demonstrar surpresa, indignação, tristeza, em outras palavras, um palavrão bem comum. Em seguida, após uma auto censura tomei a decisão de não mais falar palavrão. Infelizmente, percebi ai que era necessário uma reeducação do meu vocabulário. Então, conversando com o meu pai, homem perspicaz, inteligente e conciso, relatei a situação e minha tomada de decisão. A resposta foi ótima! “Minha filha como assim deixar de falar palavrão? Porque quando está foda, está foda e pronto! Não dá pra trocar o tá foda por outra palavra.” E assim, resolvi cultivar maior atenção ao que digo ao passo que continuarei cultivando os velhos hábitos...